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  • Foto do escritorBruna

Crítica sensorial

Atualizado: 7 de fev.

Descumprindo uma das duas metas para o mês de janeiro – postar semanalmente neste blog , estou aparecendo só em fevereiro. Isso não quer dizer que não escrevi nem esbocei mentalmente alguns posts, mas, contradizendo meu próprio desejo expresso no início da nossa conversa (falar sem arrudeios ou rodeios, da maneira que der na hora, sem esperar perfeição. Depois a gente volta, corrige, refaz), decidi não publicar nenhum deles. Enferrujei rápido demais.

 

Conforme o óxido de ferro impregnava cérebro e mãos, lembrei que ainda não havia inaugurado a sessão Mundo, cuja abertura diz que eu trarei dicas e coisas interessantes que andei vendo por aí. Falar sobre algo produzido por outra pessoa é sempre um bom quebra-gelo quando a gente não tem conseguido dar vida às próprias criações. Mas será que eu tenho tanta opinião assim sobre essas outras coisas?

 

Maqui Nóbrega, criadora de conteúdo, tem um quadro em seu perfil chamado Crítica Gastronômica em 30 segundos (ou menos) onde ela experimenta uma comida e diz, voilà, o que achou. A crítica se resume a breves comentários como “bom”, “gostei”, “esperava mais” depois de quase 20 segundos de caras, bocas e levantar de sobrancelha durante a mastigação. Direta, objetiva, sem firulas.

 

Eu não tenho experimentado tantas comidas novas para me desafiar a fazer críticas gastronômicas e tampouco quero me limitar a indicar algo tão específico. Pensando assim, decidi que faria uma Crítica Sensorial em um parágrafo (ou mais) para registrar tudo o que me aguçou os sentidos (qualquer um!) de uma maneira bem livre, falando muito ou pouco. E é isso que vou aproveitar para fazer já, depois deste lenga-lenga introdutório.

 

.audição.

 

O Rádio Novelo Apresenta, podcast sobre histórias reais produzido pela Rádio Novelo, seria uma indicação desde o primeiro momento, mas com outro episódio. Este episódio eu ouvi hoje, há algumas horas enquanto lavava os pratos, e me acertou em cheio e eu nem sei explicar o porquê. Talvez pela pesquisa e investigação que os personagens precisaram fazer para encontrar as donas das suas histórias, talvez pelas histórias em si, talvez pelo tempo que ficou congelado nelas.

 

O episódio 62 se chama Garrafas ao Mar, referenciando aquelas mensagens que jogamos no mar dentro de garrafas para que cheguem até um remetente (ou até “o” remetente). É autoexplicativo, eu sei. Mas nenhuma das histórias foram deixadas em garrafas e muito menos foram lançadas ao mar. Na verdade, a primeira foi deixada em forma de sublinhados, riscos e círculos em um livro e a segunda foi deixa em forma de áudio, em uma fita k7. Ambas foram parar em sebos.

 

A história de Alice, a do livro, me fez pensar sobre como nós podemos colocar emoção, sentimentos, em pequenos gestos, que poderiam passar despercebidos por nós mesmos no futuro, mas, que chegando em outra pessoa, podem evocar um milhão de sensações, ideias, hipóteses. Annick, a dona da segunda história, também passa isso ao confessar que havia esquecido da fita.


Aliás, achei maravilhoso gravar uma fita para responder uma carta e eu, que muito raramente mando áudios para meus amigos e nem faço terapia, invejei o desprendimento em falar, em voz alta, a um único interlocutor, sobre sua vida, sua rotina, seus pensamentos e sentimentos. Admirei a não-urgência em comunicar: te conto um pouco hoje, paro, viro a fita, conto um pouco mais amanhã. Me apaixonei pelo registrar o som sem imagens, exceto aquelas descritas por quem fala, pelo eternizar da voz de menina, um pouco vacilante, quase boba.

 

Garrafas ao Mar, e alguns acontecimentos recentes, aumentou em mim a vontade de gravar minhas memórias e de estar mais presente na vida daqueles que fazem a minha vida. Enquanto não crio coragem para congelar sons e imagens porque tenho vergonha demais e memória no celular de menos, vou me empenhando em congelar o tempo e os causos mais ordinários em palavras. Espero conseguir.


•••

Este e outros episódios podem ser ouvidos no site do Rádio Novelo Apresenta, no canal do YouTube e em todos os tocadores de podcast. Ou abaixo.











@matthardy


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