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  • Foto do escritorBruna

Ano Novo e tudo de novo

Na sexta, dia 29 de dezembro de 2023, enquanto mexia a última papa do ano, Denise Fraga interrompeu o podcast que eu ouvia falando algo sobre viver no seu tempo e como somos nós que estamos pulando momentos das nossas vidas do mesmo jeito que avançamos stories e ignoramos publicações nas nossas redes sociais – ou propagandas no Spotify. Segundo ela, tem tempo para tudo. E esta breve reflexão é trecho de uma série de propagandas de fim de ano da Vivo que, por eu estar longe do celular e ocupada em não perder o ponto do jantar do meu pai, não foi pulada logo nos primeiros segundos.

 

Tem tempo para tudo.

 

Poucos dias antes, entre segunda e quarta, procurei um poema de Ano Novo para escrever um bilhete. Não achei nenhum tão adequado, mas me deparei com Passagem do Ano, de Drummond, em que ele diz:

 

Passagem

O último dia do ano

não é o último dia do tempo.

 

Na última quinzena de dezembro, me bate aquele desespero de finalizar as pendências e concluir meus rituais de virada de ano (que consistem, basicamente, em faxinar a casa, o corpo e a mente) e, para manter o foco, coloco no calendário o que pretendo fazer dia a dia ou escrevo uma lista de afazeres. Neste ano não consegui fazer nada disso: o capítulo da dissertação que planejava escrever não saiu do mundo das ideias e a faxina na casa ficou pela metade.


Me recusando a ser engolida pela ansiedade, porém, parei para refletir sobre o que tinha feito durante esses dias. Não escrevi, mas fiz leituras essenciais para as discussões que desejo desenvolver na minha pesquisa; não faxinei toda a casa, mas dei conta do cômodo mais crítico; conheci familiares; cuidei de corpo e mente; estive com os meus e estive comigo mesma.

 

Chegaram 31 e 01 e eu fiz o que deu e o que tive vontade. Dei uma geral no quarto, fui à academia, comi um hambúrguer delicioso de couve-flor e brócolis (uma das descobertas de 2023), assisti besteira com a minha irmã, comi chocolate e brigadeiro, procurei um plano de fundo novo para o celular, arrumei a cozinha... O último dia de 2023 e o primeiro dia de 2024 refletem o que desejo para o ano que inicia: desacelerar. Silenciar as vozes ansiosas que insistem em falar incessantemente sobre o futuro e sobre o tempo que, supostamente, estamos “perdendo”. Aproveitar o presente sem pular os momentos. Viver. Simplesmente, viver. Com carinho, com gana e sem pressa.

 

2024 nos presenteia com um dia a mais para ser vivido, nos lembrando que tem tempo para tudo. Teremos tempo para tudo. Para as faxinas, para os textos – a serem escritos e lidos –, para os treinos, para conversar com todo mundo e para se recolher sozinho no quarto, para conhecer novas pessoas e para reconhecer antigas. Para fazer tudo e para fazer nada (por que não?).

 

Em outro poema, o mesmo Drummond nos alerta:

 

Para ganhar um ano-novo que mereça

este nome, você, meu caro, tem de

merecê-lo, tem de fazê-lo novo,

 

Eu sei que não é fácil mas tente,

experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo

dorme e espera desde sempre.

 

Façamos, então, as mesmas coisas de um novo jeito, em um novo ritmo. Aproveitando tudo.

 

Feliz Ano Novo!




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